A literatura proibida– Parte I


Quando o assunto são os grafitos de banheiro, um livro que é bastante citado por outros autores é o de Gustavo Barbosa. Trata-se do Grafitos de Banheiro: A Literatura Proibida, publicado em 1984 pela editora Brasiliense.




A obra se encontra dividida, basicamente, em três partes. Após a parte que contém as considerações introdutórias do autor, há três blocos temáticos, cujos títulos são: Sexualidade e repressão, Lugares escondidos e Grafitos.

Na introdução, Barbosa (1984, p. 15) começa tratando do aspecto do “[...] caráter cultural de proibições tidas como naturais”. Posteriormente, ele deixa claro que a proposta de seu livro é a de analisar um dos fazeres socialmente “indesejáveis”:


[...] os grafitos produzidos em banheiros públicos, sob condições de anonimato, clandestinidade e privacidade que os distinguem dos ‘canais’ convencionais de comunicação. (BARBOSA, 1984, p. 16, grifo do autor).


Em sua análise, ele pretende investigar os motivos que levam à predominância de mensagens tidas como obscenas nos banheiros e por que a obscenidade é associada à noção de sexualidade ou de excreção. Além disso, ele se propõe a “[...] investigar o caráter de transgressão que marca esses escritos, e a sua pertinência com as instituições onde eles são veiculados.” (BARBOSA, 1984, p. 16), como também analisar “[...] os fatores circunstanciais que interferem na elaboração da mensagem, e o controle (censura) exercido pela instituição.” (BARBOSA, 1984, p. 16), as relações entre a escrita latrinária e o ato de defecar, a estigmatização dos aspectos referentes ao sexo e à excreção, entre outros.

No bloco temático Sexualidade e repressão, Barbosa (1984) aborda as noções de repressão, sublimação, perversão, sexualidade, proibição e transgressão. Para isso, ele toma como base as perspectivas de Sigmund Freud, de Wilhelm Reich, de Michel Foucault e de Georges Bataille.

Em Lugares escondidos, o segundo bloco temático do livro, o autor aponta, por exemplo, que as funções sexuais e excretórias do corpo humano são tidas socialmente como objetos de vergonha, de pudor e nojo. Outra questão que Barbosa (1984) trata nessa parte corresponde ao espaço do banheiro. Ele evidencia a sua percepção sobre o ato de ir ao banheiro afirmando que:


Mesmo tendo-se de passar pelas barreiras do controle institucional [...], ir ao banheiro é como ir viver num “território do eu”, reserva de intimidade e individualidade. Ao se isolar num reservado, o indivíduo experimenta sensações de anonimato, liberdade e segurança que fazem do WC um lugar propício a outras atividades socialmente proibidas, [...]. (BARBOSA, 1984, p. 75, grifo do autor).


Já no último bloco temático do livro, cujo título é Grafitos, além de apresentar a concepção de grafitos de Luiz Beltrão e Américo Pellegrini Filho, Barbosa (1984) trata de aspectos como: as técnicas de escrita dos grafitos; as técnicas de controle da produção dos grafitos; a metodologia adotada em sua pesquisa; as temáticas que predominaram nos grafitos que coletou; e a sua classificação dos grafitos quanto ao gênero (definido pelo autor como a forma literária dos grafitos e a forma com que eles se referem ao real ou se dirijam ao leitor).  

De acordo com Barbosa (1984), na classificação quanto gênero não foi dado enfoque ao tema dos grafitos, mas “[...] ao uso que se faz desse meio de expressão, em suas diversas formas. [...]” (BARBOSA, 1984, p. 139). O resultado de tal classificação foi o estabelecimento de 16 categorias de grafitos, que serão abordadas em um próximo post do blog.

Composto por exemplos diversos de grafitos (provenientes de locais diversos e de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Campos e Angra dos Reis) coletados para a pesquisa e por reproduções de desenhos encontrados neles, o livro Grafitos de Banheiro: A Literatura Proibida é mais uma obra que evidencia os escritos de banheiros como “[...] uma literatura rica em significações para o conhecimento de aspectos fundamentais da cultura humana.” (BARBOSA, 1984, p. 17).


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BARBOSA, Gustavo. Grafitos de banheiro: A literatura proibida. São Paulo: Brasiliense, 1984, 201 p.


Autora: Aline Matias.

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